A vida nos avalia, momento a momento? Haverá, em meio ao caos das infinitas situações possíveis a que nos impelem nossas ações – voluntárias ou não – um farol, um anseio, um resíduo de ordem? Parece-me, às vezes, que a estrutura probabilística dos eventos se dissolve completamente em favor de uma vontade cósmica cuja característica marcante é o sadismo. Talvez haja algo que se pareça com “destino”, algo menos forte e fatídico, mas ainda assim capaz de empreender alterações e inserir acontecimentos sutis que nos abalam o espírito cético e puramente racional. Digo “talvez” porque é da minha natureza questionar o que não se explica através da lógica, mas hoje estou quase convencido de que uma força maior me observa e diverte-se sobremaneira com a refinada crueldade dos dilemas com que me brinda o “acaso”. Esse “acaso” que me localiza com precisão as falhas morais e faz-me sentir o impacto total da vileza reprimida por valores éticos que não sei se realmente os tenho em mim. Incoerência, cansaço, nau sem vela e sem leme.
- A.
- A.