Inside a bottle in midsea

One of these nights… One of these nights, my dear, when I’m too old, when it comes to an end, and the petty setbacks of life cease to try and hinder our steps… I will take you by the hand and tell you all those little things that no one never knew about me. I’ll shed tears on your lap (it’ll be then so very late), and then – I promise – I won’t let you say a word. I’ve always carried this terrible song of parting: Fate bids me leave, and go to war. Is it true that nothing lasts? I guess so. It must be a human flaw to assume otherwise. To believe that we are building something glorious, when all that really matters is so fleeting. But I won’t cry when we last see each other, I want to go with a smile to prove that my heart has grown strong and impregnable. It is a silly game of appearances, I know, but still I’m playing it (doesn’t everyone?). I’ve paddled upstream for too long. The strain had a costly effect on me, made me feel worn out, weary, and wretched. But I learnt a few beautiful songs on the way, the kind of music that ordinary people dare not sing. And now I’m not afraid anymore. You... you are not reading these words, are you? They will never get to you. And I can't help but smile at the irony... *sigh* I will stride onward, as always, and try to make the best of it. And I will always, always love my memories of you. Fare thee well, my dear, wherever you are.

A.
"It is a hard lesson for a hard world and you had better learn it, young Masbath.
Villainy wears many masks, none so dangerous as the mask of virtue."


--- Ichabod Crane
(Sleepy Hollow)
Se escreves, deves fazê-lo sabendo que mesmo o teu melhor esforço dificilmente fará com que te compreendam na medida adequada. Esforças-te inutilmente.

Se não escreves, é porque não queres arcar com o esforço de transformar em palavras aquilo que sentes. Resulta que és preguiçoso e negligente.

Se escreves, é porque não te importas em magoar outras pessoas com tuas verdades nuas. És, assim, insensível e inconseqüente.

Se não escreves, deixas de cultivar um dos poucos dons que inadvertidamente desenvolvestes. És um traidor de ti mesmo.

Se escreves, levas uma eternidade para alcançar um resultado que te satisfaça, enquanto há obrigações a serem atendidas. Provas-te irresponsável.

Se não escreves, perdes a chance de deixar um vestígio da tua passagem pelo mundo. Logo, serás esquecido com rapidez.

Se escreves, expões-te ao escárnio do mundo, removes-te do cálido recesso de tua fortaleza e com isso praticas grande insensatez.

Se não escreves, é porque tens medo do que outros hão de pensar de ti. Portanto, vês, acovardado – que não és livre.

Se escreves acerca de teus íntimos tormentos, atormentas com tuas palavras os passantes e fazes com que se lhes aumente o fardo. És de fato um incômodo, e fugirão todos de ti.

Se não escreves e impedes de transpirar os fluidos que destila a angústia, com segurança hás de apodrecer intimamente.

Se escreves com livre pensar, arriscas-te em grande medida.

Se o não fazes, condenas-te não menos.
"Cherry blossoms... are pretty when they bloom
But they are also beautiful when they fall."


--- Kaoru Himura
(Rurouni Kenshin - Seisouhen)
“Father of Light! to Thee I call;
my soul is dark within”
--- Lord Byron

Você está sozinho em casa. Todos os amigos saíram de férias, mas você ainda tem assuntos pendentes e não pode viajar. É noite, e nenhum som no apartamento de oito cômodos. Há um incômodo, um zunido que te impede de abrir um livro, e o interesse pela televisão já ficou longe, longe. Estudar está fora de questão, o cérebro foi o primeiro lugar que o Cansaço tomou. Você vai até a cozinha, e aproveita para matar uma barata, enquanto escapam outras duas. Com o intuito de fazer desta um exemplo, você a empala num palito de dente e fixa o resultado numa esponja, deixando a advertência ao pé do tanque de lavar roupa. A sala tem dois interruptores para acionar a mesma luz – que só funciona quando uma determinada combinação entre as chaves é obedecida. Você não entende o porquê e decide não pensar no assunto, resignado. O computador no canto da sala só não é mais velho do que o próprio prédio secular, mas isso deixou de ter importância quando o Rodolfo abandonou a república e levou o monitor com ele. O que restou compõe uma espécie de totem vetusto dedicado a algum deus urbano. Você ouve a filha do síndico entrando no elevador com os dois poodles que ela leva toda noite pra passear – e sorri à lembrança de quando voltou bêbado de uma noitada e berrou “WHAZZUP!” ao telefone quando o síndico ligou para reclamar do barulho. Aquilo sim foi intenso. Aquilo sim! Mas nesta noite quente de verão, a trivialidade de tudo que te cerca sufoca e esmaga. Entediado até o tutano dos ossos, você decide ir ao supermercado, mesmo sem saber se vai comprar alguma coisa. Acende a luzinha do elevador, e o mecanismo ecoa fundo no fosso... dentro dele, você é como um sapato que ficou tempo demais na caixa. A caminhada de três quarteirões até o supermercado é lenta e você capta com voracidade os detalhes externos: A palidez das estrelas ofuscadas pela iluminação urbana, o asfalto ainda quente (são onze da noite) pelo calor escaldante no rastro do cadáver do dia. Uns poucos fiéis ainda aguardam o ônibus às portas de uma filial da Universal, e você meneia discretamente a cabeça em reprovação – no fundo os inveja, porque pelo menos ELES acreditam em alguma coisa. Selene luz no céu, indiferente, e você a cumprimenta com um olhar calado. O ar condicionado do supermercado finalmente te desperta e você se surpreende caminhando mecanicamente entre as prateleiras, despreocupado de procurar por qualquer coisa em particular. Sem fome, sede ou qualquer desconforto de origem física, o passeio pelos corredores repletos de coisas que você não quer comprar e gente que você não quer conhecer simula uma sensação de delírio onírico e mergulho num universo de emoções hermético onde a angústia não penetra. Então você percebe que estar ali sem motivo aparente é algo bastante perturbador, e retorna para o vazio recesso do seu apartamento amaldiçoando essa necessidade visceral de encontrar uma lógica e um caminho para tudo. De volta ao quarto, cansado, senta-se sobre a cama e recita “The Adieu” no escuro, e só percebe a ironia ao fim do poema. “No escuro”, você ri, contraindo os lábios. Mas ninguém vê.